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O MICROBIOMA - Significados e Correlações

Termos como microbioma, microbiota, pro, pré e posbióticos estão na ordem do dia. Sabemos que esta é uma área de estudo importante, ainda que microscópica. Mas saberemos, realmente, qual a sua ligação à oncologia?

A ciência evolui a cada ano, e as relações que se estabelecem entre a oncologia e o estudo do microbioma são cada mais evidentes, quer através de artigos científicos publicados, quer na elaboração e inovação de terapêuticas, uma vez que se relaciona com diferentes patologias.

Uma das muitas áreas de estudo deste mundo vivo, o nosso microbioma, é precisamente a saúde da mulher, e tem uma importância enorme nas suas diferentes microbiotas: urinária, vaginal e uterina.

Convidámos Ana Nunes, Farmacêutica Doutorada em Química Medicinal e Pós-Graduada em Marketing Management, que se tem dedicado ao estudo e inovação deste mundo microscópico, para abordar um tema de extrema importância, embora ainda pouco conhecido nas suas particularidades. Ana Nunes também é Global Business Director na Zinereo Pharma, Vice-Presidente da Assembleia-Geral da SPIMP (Sociedade Portuguesa para a Inovação em Microbioma e Probióticos) e Member of The Board da International Probiotics Association!

Nas próximas edições voltaremos a este tema, tal é a sua complexidade e extensão. Por agora, deixamos-vos nas palavras de Ana Nunes, que fará uma introdução ao assunto em epígrafe, explorando e clarificando conceitos importantes para melhor entender este tema.

 

"O estudo do microbioma, da microbiota e dos probióticos é atualmente alvo de intensa investigação na comunidade científica, reflectindo-se num aumento de publicações científicas e e no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas.

Uma das áreas de estudo é a Saúde da Mulher. O papel preponderante do microbioma feminino e das distintas microbiotas, tais como a urinária, vaginal e uterina, tem sido objeto de estudo devido à sua correlação com diversas patologias.

A pele, sendo o maior órgão do corpo humano, possui uma microbiota distinta denominada de microbiota cutânea. A comunicação entre o intestino, frequentemente designado como o nosso “segundo cérebro”, e a pele é objeto de investigação no estudo do eixo intestino-pele.

Conhecer o microbioma é fundamental para entender a relação simbiótica entre o corpo humano e os microorganismos com que convive.

É uma ciência recente e, todavia, em dinâmica descoberta, suscita muita curiosidade e dúvidas.

  1. Microbioma & Microbiota

O "microbioma" e a "microbiota" apesar de estarem relacionados, têm significados distintos. O microbioma é um conjunto de microrganismos que habitam um organismo, incluindo o seu material genético e as condições ambientais que o rodeiam.

O microbioma humano é composto principalmente por bactérias, aproximadamente 38 trilhões de células bacterianas, em que 97% se encontram no intestino grosso.

Por sua vez, o termo microbiota, antigamente denominada de flora, refere-se unicamente à população de microrganismos que habita uma zona específica do organismo, como a pele, o trato gastrointestinal ou a vagina, e não inclui o material genético dos microrganismos, nem as condições ambientais.

Em suma, a microbiota refere-se à comunidade de microorganismos presentes num local específico e o microbioma inclui essa microbiota, os genes e o ambiente.

O microbioma é único em cada indivíduo, tal como uma impressão digital. É também dinâmico e vai-se modificando ao longo do ciclo de vida.

É fundamental entender que nós estabelecemos uma relação com os diferentes microrganismos que habitam no nosso organismo, e que isso pode ditar o comportamento em diferentes situações e fases de vida. Os tipos de relações diferenciam-se em comensais, mutualistas e patogénicas.

  1. Eubiose e Disbiose

Eubiose e disbiose descrevem estados opostos referentes à composição e equilíbrio dos microorganismos num determinado local, como por exemplo a pele.

Uma microbiota funcional resulta do equilíbrio entre as diferentes populações microbianas que coexistem. Esse equilíbrio é chamado de eubiose e quando é alterado ocorre o que se define como disbiose, e que se traduz num desequilíbrio entre as populações de bactérias benéficas e prejudiciais. Quando há diminuição das populações de espécies benéficas, predominam as espécies patogénicas, que destroem o equilíbrio e alteram a composição e funcionalidade da microbiota, dando origem a problemas de saúde.

 

Existem patologias femininas correlacionadas com a disbiose, como no caso da microbiota vaginal. A vagina, um ecossistema complexo, é predominantemente colonizada pelo género Lactobacillus, que contribui para a manutenção de um pH ácido, através da produçao de ácido lático, que por sua vez previne o crescimento de microorganismos patogénicos, protegendo assim a vagina contra diversas infeções, como por exemplo a vaginose bacteriana (BV), vaginite atrófica (AV), candidíase vulvovaginal (VVC), entre outras.  

 

  1. Probióticos

Segundo a definição da FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura) /OMS (Organização Mundial da Saúde), os probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Os probióticos necessitam de nutrientes para poder realizar o seu metabolismo e colonizar adequadamente o local onde se encontram.

É importante, por isso, entender o que é um probiótico. Os probióticos, maioritariamente bactérias, são identificados pela sua estirpe. A estirpe pertence a uma espécie, e a espécie pertence a um género.

Assim, o exemplo do Lactobacillus rhamnosus GG, é a estirpe GG do género Lactobacillus e da espécie Lactobacillus rhamnosus. Cada estirpe é única, e é a estirpe que condiciona a atividade e não a espécie.

 

  1. O eixo intestino-pele

Os nossos órgãos comunicam entre si, existindo uma relação estreita entre o intestino e a pele. O eixo intestino-pele espelha a relação de comunicação bidirecional entre o microbioma intestinal e a pele. É regulado por vários mecanismos, como mediadores inflamatórios e o sistema imunitário, sendo que a disbiose intestinal está correlacionada com algumas patologias cutâneas, incluindo acne, eczema, rosácea, dermatite seborreica e psoríase.

O microbioma da pele, ou cutâneo, é constituído por um conjunto de microorganismos que habitam a pele. Atua como uma barreira ao ambiente externo, protegendo a pele de microrganismos patogénicos e substâncias nocivas.

A função do microbioma cutâneo passa pela proteção da pele contra microrganismos patogénicos, promoção da sua imunidade, absorção de nutrientes e reforço da barreira cutânea.

Atualmente sabemos que microbiomas cutâneos saudáveis são caracterizados por uma alta diversidade bacteriana.

Manter a saúde da microbiota intestinal não só exerce efeitos benéficos no intestino, mas também tem uma influência direta nas outras microbiotas, desempenhando um papel fundamental na manutenção da saúde." 

 

Ana Nunes é Farmacêutica e Vice-Presidente da Assembleia-Geral da SPIMP e Member of the Board da International Probiotics Association

 

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