Depois do cancro  - Mais do que sobreviver a uma doença oncológica, viver com qualidade.

Depois do cancro - Mais do que sobreviver a uma doença oncológica, viver com qualidade.

O diagnóstico de cancro acarreta desafios exigentes. A realidade que muitos desconhecem é que, quando a doença é superada, o seu impacto não deixa de se fazer sentir. Se, por um lado, os avanços no combate às doenças oncológicas permitem que cada vez mais doentes vivam longos anos depois do cancro, por outro, há cada vez mais pessoas a terem de lidar com as sequelas, por vezes complexas e duradouras, da sobrevivência. Cuidar dos sobreviventes de cancro é a missão da nova unidade da CUF

Taxas de sobrevivência acima da União Europeia

São mais de 12 milhões os sobreviventes de cancro, na Europa, segundo dados divulgados pela Comissão Europeia. Em Portugal, a Liga Portuguesa Contra o Cancro aponta para a existência de mais de meio milhão de pessoas nesta condição, cerca de 5% da população nacional. As taxas de sobrevivência têm vindo a aumentar, no nosso país, ultrapassando mesmo a média da União Europeia, nos cancros mais comuns - nos quais se incluem o da mama e o colorretal.

Para este crescente número de histórias felizes, têm contribuído “múltiplos fatores, entre os quais os meios de diagnóstico cada vez mais avançados, que permitem identificar tumores e lesões malignas em fases mais iniciais, os programas de deteção precoce e uma população mais alerta para a necessidade de vigilância, mas também a evolução dos tratamentos oncológicos, com o surgimento de abordagens como a imunoterapia e as terapêuticas-alvo.”, explica Mariana Malheiro, oncologista da Unidade do Sobrevivente de Cancro da CUF.

São boas notícias, mas é preciso compreender que a jornada de quem viveu um diagnóstico oncológico não termina no fim dos tratamentos: “estas terapêuticas têm efeitos secundários e toxicidades que podem afetar o bem-estar, a médio e a longo prazo. A avaliação das necessidades dos sobreviventes e o seu acompanhamento, adaptado a esta fase específica, têm um papel fundamental na recuperação da autonomia e da qualidade de vida.”, avança. 

(Sobre)viver: os desafios

Quando se sobrevive a um cancro, é inevitável sentir medo de uma recidiva. “É um dos fatores mais frequentes de ansiedade entre os sobreviventes, chegando mesmo a poder afetar o sono e a provocar sintomas de depressão”, explica a oncologista da CUF. Segundo dados de estudos recentes, 24% dos sobreviventes relatam sentir-se ansiosos e cerca de metade revela ter desenvolvido distúrbios do sono, após o diagnóstico.

O mais comum, contudo, são relatos de alterações cognitivas: “os sobreviventes de cancro têm um risco até 40% superior de problemas de memória e concentração. São mesmo muito frequentes, atingem cerca de 75% das pessoas, após o fim dos tratamentos”, acrescenta a médica.

Os sobreviventes de cancro são afetados por sintomas físicos, emocionais e sociais com implicações na sua saúde e bem-estar, que podem durar vários anos. São os mais comuns:

●      Dor

●      Fadiga

●      Ansiedade e depressão

●      Falhas de memória

●      Dificuldades de concentração

●      Distúrbios do sono

●      Desregulação hormonal

●      Problemas cardiovasculares

●      Perda de mobilidade

 

Superação na primeira pessoa

Madalena D’Orey sobreviveu a um cancro, diagnosticado quando tinha apenas 9 anos e contra o qual batalhou durante longos anos. Hoje, 45 anos depois, faz do seu propósito de vida ajudar pessoas que atravessam esta doença, mas também aquelas que têm histórias de superação para contar. “Sobreviver a um cancro é uma vitória, mas ninguém nos prepara para as sequelas que surgem depois.”, esclarece a Patient Advocate.“Uma pessoa que sobrevive ao cancro é uma nova pessoa. E é fundamental que os profissionais de saúde a orientem na adaptação a esta nova condição, até então desconhecida e que pode ser verdadeiramente desafiante: a de sobrevivente.”

 

 

Uma resposta necessária

Foi para ajudar os sobreviventes a lidarem com os desafios decorrentes do cancro e apoiá-los no regresso à vida ativa que a CUF criou a primeira Unidade do Sobrevivente de Cancro do país, pensada em conjunto com pessoas que enfrentaram um diagnóstico oncológico, como Madalena D’Orey.

“O que pretendemos, com este projeto pioneiro, é dar uma resposta completa e integrada às necessidades das pessoas que superaram um cancro, desde o tratamento de sequelas à promoção da saúde e prevenção de recidivas. A adaptação à vida após o cancro pode ser um verdadeiro desafio, e o apoio especializado, nesta fase é muito importante.”, refere a oncologista Mariana Malheiro.

A Unidade do Sobrevivente de Cancro foca-se em cuidar, de forma personalizada e abrangente, dos sobreviventes oncológicos, de acordo com as mais recentes orientações internacionais em Oncologia. A equipa reúne profissionais de saúde com experiência no acompanhamento pós-cancro, diferenciados em áreas como Cardio-oncologia, Psico-oncologia, Nutrição, Fisioterapia, Endocrinologia, Dermatologia, entre outras que se ajustem às necessidades de cada um.

“Depois do cancro, surgem muitas questões. Muitas pessoas chegavam até mim com dúvidas sobre como lidar com os efeitos secundários da doença, dos tratamentos e com as dificuldades que estes impunham, no seu dia-a-dia, e eu senti que faltava apoio médico especializado, centrado exclusivamente nos desafios que os sobreviventes de cancro enfrentam.”, explica Madalena D’Orey. “Podermos contar com profissionais de saúde que compreendem as nossas dores, que têm experiência no tratamento das sequelas e são capazes de atender às nossas necessidades é determinante para o nosso bem-estar. Criar esta resposta era necessário.”

Para a oncologista da CUF, Mariana Malheiro, “o nosso objetivo é claro: ajudar estas pessoas na sua reintegração, após o cancro, e proporcionar-lhes uma vida com qualidade.”

Atualmente, a Unidade do Sobrevivente de Cancro está disponível nos hospitais CUF Descobertas e CUF Tejo, prevendo-se que ainda este ano integre, também, o Hospital CUF Porto.

 

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